quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Zezé indica o livro: A Esfera Artística


A Esfera Artística: Marx, Weber, Bourdieu e a sociologia da arte
VIANA, Nildo
ISBN-13: 9788588840720. Edição: 1ª EDICAO - 2007. Numero de páginas: 128

Esta obra é indispensável para quem queira compreender as diversas determinações que envolvem as obras de artes na sociedade moderna. A proposta de Nildo Viana, tal como coloca modestamente, é o de “elaborar algumas teses que permitiriam o desenvolvimento de uma teoria da arte”. Para isso, parte das contribuições que Marx, Weber e Bourdieu ofereceram para a análise das questões estéticas, analisando-as criticamente, sem descartar a contribuição de outros pesquisadores. Além de discuti-los individualmente reserva posteriormente um capítulo para apontar diferenças e semelhanças na concepção de arte em Marx e Weber e ainda a contribuição de Bourdieu, que na sua visão, aprofunda “idéias esboçadas por Marx e Weber”. Finalmente, apresenta dez teses colocando e discutindo a relevância de cada uma e as quais, acreditamos serem, essenciais para a compreensão das diversas expressões artísticas existentes na atualidade. Esta é sem dúvida uma leitura instigante, esclarecedora e necessária para o conhecimento da arte moderna.
Edmilson Marques.
Historiador e Cientista Político.

Introdução

O nosso objetivo no presente trabalho é analisar a concepção de arte em Marx, Weber e Bourdieu e fazer uma breve comparação e análise crítica, para, por fim, estabelecer alguns apontamentos para a elaboração de uma teoria da arte na sociedade moderna.
Sem dúvida, reconstituir a concepção de arte de Marx e Weber é uma tarefa difícil, tendo em vista que estes autores não deixaram uma obra acabada sobre este tema. Bourdieu, ao contrário, produziu obras sobre esta temática e, assim, é mais fácil expor sua contribuição, inclusive por sofrer influência dos dois clássicos da sociologia.
Entretanto, apesar da dificuldade, consideramos possível reconstruir a concepção de arte de Marx e Weber. As lacunas, a nosso ver, podem ser superadas como complemento do método e da teoria da sociedade de cada um deles. O nosso objetivo, neste momento, é descobrir como Karl Marx e Max Weber, a partir de sua concepção de sociedade e História, abordaram o fenômeno artístico. Sem dúvida, nenhum dos dois autores apresentou um estudo exaustivo sobre este tema, mas deixaram escritos dos quais podemos extrair uma concepção de arte, principalmente acrescentando os elementos metodológicos presentes em cada um.
A concepção de arte em Bourdieu, de caráter mais acessível, tem muitas semelhanças com a concepção de Marx e Weber e, portanto, é importante analisar também sua contribuição e comparar suas teses com a dos dois predecessores, assim como observar em que pontos eles avança em relação aos dois clássicos da sociologia.
Por isso, pretendemos desenvolver este trabalho da seguinte forma. No primeiro e segundo capítulos, apresentaremos uma breve introdução à visão geral da sociedade em Marx e Weber, respectivamente, e depois analisaremos especificamente os seus escritos sobre arte, visando apresentar a concepção de arte em ambos.
Em Marx, o elemento fundamental será sua distinção entre modo de produção e formas de regularização das relações sociais, ou seja, as formas ideológicas, jurídicas e políticas, ou, simplesmente, “superestrutura”, pois é no espaço desta última em sua relação com o modo de produção que Marx desenvolverá a problemática da arte.
Na Contribuição à Crítica da Economia Política, Marx faz alguns apontamentos sobre a arte, enfocando principalmente a questão da perdurabilidade dela em épocas históricas posteriores ao seu surgimento. Muitos autores influenciados por Marx elegerão esta problemática como o elemento central da teoria marxista da arte, tal como Lukács, Vásquez, entre outros.
Se a arte está incluída na chamada superestrutura, então a teoria da sociedade de Marx é fundamental para explicar o fenômeno artístico, bem como sua teoria da História. Portanto, a concepção marxista da arte pode ser retirada dos escritos de Marx sobre a arte e de sua teoria geral da sociedade e da História. Além disso, julgamos importante a percepção de que, para Marx, as formas de regularização sob o capitalismo é algo que se complexifica e que está intimamente ligado ao processo de expansão da divisão social do trabalho.
Em Weber, o principal elemento de sua teoria, que pode contribuir com a compreensão do fenômeno artístico, é sua teoria da racionalização, tal como se vê em Fundamentos Racionais e Sociológicos da Música e O Sentido da “Neutralidade Axiológica” nas Ciências Sociais e Econômicas, sendo este último um escrito metodológico. Além disso, encontramos alguns apontamentos sobre estética em seus textos sobre religião. Como a grande problemática que perpassa a obra de Weber é a da racionalização e a do sentido da ação social, é possível encontrar em sua teoria da História e da sociedade, ao lado de sua metodologia, elementos importantes para entender sua concepção de arte, principalmente se levando em conta os escritos nos quais ele aborda diretamente tal questão.
No terceiro capítulo, faremos processo semelhante com o sociólogo Pierre Bourdieu, porém, como este deixou obras sistemáticas sobre a questão da arte, abordaremos mais sua concepção de campo artístico e faremos apenas uma breve discussão sobre sua teoria dos campos para ficar mais compreensivo sua sociologia da arte. Também realizaremos algumas observações críticas sobre sua concepção de arte.
Bourdieu demonstra forte influência tanto de Marx quanto de Weber e aborda a questão da arte a partir de sua “teoria dos campos”. Este sociólogo compreende a sociedade como sendo constituída por diversos campos que possuem leis gerais e particulares e são perpassados por disputas internas. Este é o caso do campo artístico, que Bourdieu analisa em seu processo de constituição e suas características básicas.
No quarto capítulo, faremos um balanço das contribuições, semelhanças e problemas na concepção de arte dos três pensadores. A partir da idéia de divisão social do trabalho, racionalização e especialização, encontramos pontos semelhantes entre os três autores, bem como algumas diferenças. Uma comparação entre estes três pensadores é extremamente útil para a elaboração de uma teoria da esfera artística.
Estas três concepções são contribuições importantes para compreender o fenômeno artístico moderno. Por isso, esboçaremos uma comparação entre a concepção de arte em Marx e Weber a partir da idéia de que existem semelhanças entre estes dois autores, embora existam, também, várias diferenças. A nosso ver, tal como colocaremos adiante, a idéia de divisão social do trabalho em Marx e a de racionalização em Weber são fundamentais para se realizar uma comparação entre ambos. Também incluiremos a concepção de Bourdieu de arte e veremos o que existe em comum entre estes três pensadores. Sem dúvida, a idéia de racionalização, de Weber, é bastante semelhante à teoria dos campos em Bourdieu, assim como também a concepção de Marx, que relaciona arte e divisão social do trabalho, tem pontos em comum com ambos os sociólogos.
No quinto e último capítulo, apresentaremos alguns elementos básicos para a formulação de uma visão da arte na sociedade moderna. Estes elementos básicos serão apresentados sob a forma de teses. Isto ocorre devido ao seu caráter ainda rudimentar, mas que já esboça uma determinada teoria da arte na sociedade moderna, inspirando-se em Marx, Weber e Bourdieu.
Neste sentido, será fundamental partir da conceituação de arte, bem como analisar o papel da arte na sociedade moderna, em seus múltiplos aspectos, desde o processo de constituição histórica até a elaboração de uma análise das relações sociais e instituições que estão na base da arte moderna, além de discutir questões como a da avaliação, interpretação e sua finalidade. Estes aspectos podem ser apreendidos de melhor forma a partir do conceito de esfera artística, tal como delinearemos no último capítulo desta obra.
Por fim, apresentaremos um esboço de síntese entre estas contribuições e a nossa modesta contribuição para a constituição de uma teoria da esfera artística, partindo destes autores e buscando lançar uma necessária discussão sobre a questão da arte na sociedade moderna, fundamental para a sociologia da arte e outras disciplinas que estudam o fenômeno artístico.
Nildo Viana, é bacharel em Ciências Sociais (UFG), especialista (UCB) e mestre em Filosofia (UFG), mestre e doutor em Sociologia (UnB), professor da Universidade Estadual de Goiás.

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